Desafios e Oportunidades para o Pedagogo

A área de educação sempre nos coloca frente a desafios e ao mesmo tempo nos abre oportunidades constantes.

Ser profissional da educação é ser um eterno aprendiz, um ser que planeja, realiza, reflete sobre os resultados de sua ação e volta a agir, sempre mirando a melhoria da qualidade da aprendizagem de seus alunos. Nesse sentido, cada novo resultado nos coloca frente a oportunidade de pensar a mudança.

Nossos alunos mudam, nossas equipes se movimentam, as demandas e expectativas se modificam. A escola, como um sistema dentro de um sistema maior, precisa dar respostas.

Hoje a escola passa por questionamentos vários: que diretrizes seguir, haja visto que as nossas bases nacionais estão sendo revistas?  Qual currículo devemos adotar? Que abordagem pedagógica implantar nos nossos cursos? Nosso Projeto Político Pedagógico está alinhado às nossas decisões? As grandes questões sobre habilidades socioemocionais, competência global, abordagem baseada em solução de problemas, a interdisciplinaridade, a integração mente, cérebro e emoção estão sendo consideradas em nossos projetos? Alfabetizamos em mais de um idioma? Bilinguismo ou potencialização de uma língua estrangeira?  Qual o perfil de professor que devemos selecionar? E qual o papel do pedagogo nesse cenário?

Parece um cenário caótico? Desafio ou oportunidade?

Para os pedagogos identificamos um momento de grande oportunidade, pois há grande demanda por professores e lideranças pedagógicas que articulem estas questões. Plagiando o professor Paulo Ronca: “nunca se fez tão necessário, o professor e o coordenador pedagógico” para criar soluções de aprendizagem, formar suas equipes em serviço, num trabalho de cooperação e troca.  E nunca se fez tão necessário pensar numa formação continuada e numa qualificação docente mais alargada.

Mencionamos bilinguismo ou a alfabetização em dois idiomas, o que em nossa realidade significa alfabetizar na nossa língua materna e também numa língua adicional, em geral, a língua inglesa. Esta demanda por uma educação bilíngue cresce especialmente nos anos da primeira infância, expondo as crianças já a partir de 2 ou 3 anos a dois idiomas. Até o Fundamental I, o bilinguismo, ou a presença da abordagem bilíngue nos programas escolares, especialmente da rede privada de ensino, cresce de forma significativa.  Nessa fase são os profissionais com a formação em pedagogia que entram em cena, só que agora com algumas novas exigências. Estas novas exigências se referem a ter um inglês de bom nível de proficiência e de terem domínio de novas abordagens pedagógicas.

Quando falamos em um inglês de bom nível, nos referimos, segundo o Quadro Comum Europeu para o Ensino de Línguas Estrangeiras (CEFR) aos níveis avançados (C1, C2).  Estes são níveis que nosso professor de inglês, na sua grande maioria, ainda não conseguiu atingir, mas que para a atuação dentro de contextos bilíngues de fato, se fazem necessários. Será que os pedagogos se preocuparam em desenvolver esta habilidade linguística?

Estes profissionais pedagogos estão sendo demandados a ministrar aulas de ciências, matemática, artes, música em inglês, não a ensinar o idioma. Isto é, o inglês dentro destes contextos passa a ser o meio de instrução, enquanto os objetivos de aprendizagem vão além da comunicação, para o desenvolvimento de determinados conteúdos, atingindo certos níveis de cognição e incorporando aspectos culturais. Em outras palavras, a expectativa é que o pedagogo atue dentro do que se chama de contexto CLIL – Content and Language Integrated Learning (aprendizagem integrada de conteúdo e língua).

De onde vêm estas influências, quais foram os países que desenvolveram tal abordagem?

Esta abordagem vem da Europa, continente que trabalha com o multilinguísmo há muito tempo, mas teve grande influência dos programas de imersão do Canadá. Esta abordagem educacional originada nos anos 90, oferece a possibilidade de os estudantes aprenderem disciplinas curriculares enquanto ao mesmo tempo, exercitam e melhoram suas habilidades linguísticas em uma segunda e/ou terceira língua. Conteúdos e línguas se combinam para oferecer aos estudantes uma melhor preparação para a vida, na qual a mobilidade estudantil e/ou profissional vem num crescente bastante significativo, em todos os continentes e cada vez mais cedo. No passado recente se pensava em mobilidade estudantil para estudos de pós-graduação, mestrado e doutorado. Hoje os dados dos institutos de pesquisa mostram que os jovens mundo a fora, já consideram a mobilidade estudantil para a graduação.

Este movimento agora se faz presente na realidade brasileira e abre novos desafios e possibilidades de atuação para pedagogos que se permitirem ir além da formação básica e que se mantêm abertos a uma reciclagem constante.

Há um novo mundo a ser integrado aos saberes da pedagogia e uma nova possibilidade de formação: o pedagogo bilíngue, aquele que será o profissional com formação pioneira nessa área de atuação e que, certamente, será considerado referência por sua formação mais ampla e moderna.

Referências citadas no texto

Site sobre CLIL

http://www.indire.it/lucabas/lkmw_file/eurydice/CLIL_EN.pdf

Acessado em 15 de fevereiro de 2017

Site sobre mobilidade estudantil

http://www.iie.org/Research-and-Publications/Open-Doors/Data/International-Students#.WKR0n28rLIU

Acessado em 15 de fevereiro de 2017

Site sobre CEFR

http://www.cambridgeenglish.org/br/exams/cefr/

*Fátima F.S.Trindade