Opinião: Internacionalização do currículo para uma cidadania global

José Marcelo Freitas de Luna é palestrante do GES – Global Education Seminar, o evento acontecerá no dia 11/05 – Confira

O Dia Internacional da Educação é comemorado, anualmente, em 28 de abril. Trata-se de conscientizar a população mundial sobre a relevância da educação para o desenvolvimento de valores, atitudes, habilidades e conhecimentos essenciais para a vida em sociedade. Data melhor parece não haver para voltarmos a falar, aqui, sobre a internacionalização do currículo, processo que contribui, comprovadamente, para a formação do perfil do educando como um cidadão global.

Referido também como “do mundo ou sem fronteiras”, o perfil requerido do cidadão do século XXI parece estar associado a uma construção que dependeria da oportunidade de estudar fora do seu país de origem. Essa associação chega a ganhar a forma de um “sonho de estudar no exterior”. Acalentado por adolescentes e jovens de todo o mundo, as imagens correspondentes que lhes vêm à cabeça são as de conhecer culturas e línguas diferentes e de voltar como um cidadão global. Aqueles que promovem essa “mobilidade” o fazem por motivação não diferente. Famílias e outras instituições também esperam que os estudantes aproveitem o investimento para se desenvolverem acadêmica e profissionalmente.

Entre as competências desejáveis, destacam-se a linguística e a comunicativa intercultural. Trata-se de aprender ou aprimorar-se na língua do país estrangeiro; trata-se de se apropriar de um complexo de habilidades para desempenhar efetiva e adequadamente quando em contato com indivíduos linguística e culturalmente distintos. Para a família, a empresa e o governo, um estudante com competência comunicativa intercultural tem, em tese, mais sucesso nas interações, e, assim, maior empregabilidade.

Mas, quanto aprendem da língua estrangeira? Quão competentes interculturalmente se tornam aqueles que vão estudar fora? Qual o percentual do alunado mundial que tem essa oportunidade? As pesquisas que fazemos e conhecemos permitem-nos responder, resumidamente, que o número de alunos é baixíssimo (1%); e que a competência comunicativa intercultural e o conhecimento linguístico vão-se desenvolver proporcionalmente ao grau de internacionalização do currículo da escola ou da universidade que os estudantes frequentam. Dito de outra forma, pouquíssimas pessoas estudam fora do seu país, e elas podem voltar dessa experiência sem o “sonhado” desenvolvimento linguístico e intercultural, se a instituição do exterior não tiver internacionalizado o seu currículo.

A outra pergunta que fazemos e respondemos, relacionando a resposta à noção de cidadania global é: a internacionalização do currículo pode acontecer na própria escola, no próprio campus do estudante, no seu próprio país, garantindo a todos os alunos as competências desejadas pela sociedade? Sim, as pesquisas sobre a chamada internacionalização doméstica permitem-nos responder afirmativamente. A internacionalização do currículo é um processo de infusão de perspectivas internacionais e multiculturais nas estratégias de ensino e de aprendizagem, nas avaliações e referências bibliográficas dos conteúdos programáticos de todas as disciplinas do currículo da educação básica e superior de qualquer país e em qualquer língua de instrução.

Por um currículo internacionalizado, em seus aspectos formais, operacionais e ocultos, apresenta-se a possibilidade de abertura de espaços para a diversidade e para o cruzamento de culturas onde quer que o estudante esteja, fora ou dentro de seu país. Sobre essa base, toda a escola, toda a universidade pode assumir e perseguir os objetivos de formação de um cidadão que conheça o mundo, em suas manifestações linguístico-culturais. Pelo processo de internacionalização do currículo, o perfil de cidadão global pode ser traçado e realçado, tanto ou mais do que sonhado, por qualquer estudante e para todos eles. Assim, educadores e educandos podem e devem, todos os dias, renovar a sua conscientização acerca da possibilidade de sua aula fomentar, nos termos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, competências como: uma atitude apoiada por um entendimento de múltiplos níveis de identidade; um profundo conhecimento de questões globais e valores universais como justiça, igualdade, dignidade e respeito; habilidades cognitivas para pensar de forma crítica, sistêmica e criativa, incluindo a adoção de uma abordagem de múltiplas perspectivas, que reconheça diferentes dimensões, perspectivas e ângulos de questões; e capacidades comportamentais para agir de forma colaborativa e responsável, a fim de encontrar soluções globais para desafios globais.

Fonte https://www.univali.br/noticias/Paginas/opiniao-internacionalizacao-do-curriculo-para-uma-cidadania-global.aspx  – por Natália Uriarte Vieira | 26/04/2019